O anarquista, escritor e terapeuta Roberto Freire morreu na noite desta sexta, 23, em São Paulo, aos 81 anos.
Sou da geração que leu Roberto Freire (Sem Tesão Não Há Solução, Ame e Dê Vexame, Utopia e Paixão entre outros) e aprendeu com ele o sentido amplo da palavra tesão, transcendendo o sentido sexual e elevando para tudo que é belo, alegre e prazeroso. A busca do tesão no cotidiano e à liberdade de verbalizar e demonstrar fisicamente seus sentimentos sem censura.
Roberto Freire escreveu livros, peças, ensaios, editor da revista Caros Amigos e redator de sucessos de audiência como Malu Mulher, A Grande Família e Obrigado, Doutor, entre outras atividades. Toda minha admiração ao Roberto Freire.
Pra quem ainda vier a me amar
Roberto Freire
Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.
Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor,
dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo
e nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema de carne,
sangue, nervos e sêmen.
São versos que pulsam, gemem e fecundam.
Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres
às urgências dos cios
e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.
Quero a vida as claras superfícies onde terminam e começam meus
amores.
Eu te sinto na pele, e no coração.
Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.
Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre
antes, não depois da excitação.
Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo.
Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam
quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas.
A nudez a dois não acontece nunca,
porque nos vestimos um com o corpo do outro,
para inventar deuses na solidão do nós.
Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.
No amor, jamais nos deixamos de completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto. Ponto.
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