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quinta-feira, 5 de julho de 2007

Trancrições de conversas merecem ser consideradas gênero literário.

Grampos e mulheres nuas
Luis Fernando Verissimo
Transcrições de conversas em telefones grampeados têm sido publicadas com tanta freqüência que já merecem ser consideradas um gênero literário. Além de satisfazerem o nosso gosto pela bisbilhotice, preenchem uma falha antiga na literatura brasileira que é a falta de diálogos realistas. Os diálogos grampeados são hiper-realistas, cheios de erros gramaticais, descontinuidade, frases incompletas - enfim, como a gente realmente fala, principalmente quando nem desconfia que estão gravando. (Parece até que existe uma regra informal entre investigadores: quando a pessoa cuida onde põe o pronome é porque sabe que o telefone está grampeado.)

O gênero transcrição não é exatamente novo. Quem não se lembra de grampos do passado, como os que gravaram as negociações para as privatizações das teles? Mas era mais raro vê-los publicados, e eram conversas entre pessoas mais finas do que os grampeados de agora, portanto muito menos divertidas. Especula-se que as revelações das gravações do governo anterior circularam tão pouco e tiveram tão pouca conseqüência não porque as maracutaias fossem menores mas porque a sua leitura era mais aborrecida. Agora sim, o gênero encontrou seu estilo e seu mercado.

Mas o que atrai acima de tudo nas conversas gravadas é a deliciosa indiscrição que nos permitem. É o que nos atrai também na idéia de ver, por exemplo, a bandeirinha Ana Paula nua na Playboy. Temos pelos detalhes da falcatrua combinada o mesmo tipo de curiosidade que nos faz antecipar os detalhes da bela celebridade sem roupa. Num caso a indiscrição é sub-reptícia, no outro a indiscrição é consentida, mas nos dois casos temos acesso, esfregando as mãos, a uma intimidade antes escondida. A bisbilhotice é igual. E faz muito sentido que no futuro presumido de celebridades femininas (algumas de 15 minutos) produzidas pelos repetidos escândalos da República esteja sempre um convite para aparecer nua na Playboy. (Desde que mereçam a nossa curiosidade, claro. Ouvi dizer que uma testemunha na longínqua CPI do mensalão se ofereceu para posar e a Playboy recebeu milhares de mensagens horrorizadas pedindo 'Não aceitem!')


As conversas gravadas são uma espécie de desnudamento público, e provocam as mesmas frases com que muitas vezes reagimos a detalhes insuspeitados de uma nua da Playboy. Como 'Mamma mia...', 'Meu Deus do céu...' e, principalmente, 'Quem diria...'

(publicada no Estadão 05/07/07)

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