❤❤.....EU TE AMO NÃO DIZ TUDO.....❤❤
(Arnaldo Jabor)(será?)
O cara diz que te ama, então tá!
Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso,
as três palavrinhas mágicas.
Mas ouvir que é amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos,
sexo e palavras. Sentir-se amado, é sentir que a pessoa
tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade,
que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e
que dá uma sacudida em você quando for preciso.
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que
você contou há dois anos, é vê-la tentar reconciliar você com
o seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste
e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo
tempestade em copo d'água.
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro
e que não transformam a mágoa em munição na hora
da discussão...
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada,
aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser
exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda,
mas escuta. Agora, sente-se e escute:
Eu te amo! Não diz tudo!
"Me ame quando eu menos merecer,
que é quando eu mais preciso."❤.❤.
Conte-me tudo...
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sábado, 14 de maio de 2011
"Me ame quando eu menos merecer, que é quando eu mais preciso."
sexta-feira, 18 de março de 2011
Para ler, rir um pouco e pensar...
O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
Texto de Luiz Antônio Simas
Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.
Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de verticalmente prejudicado. O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal, ou horizontalmente prejudicado. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.
Abraços
Luiz Antônio Simas
(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).
sábado, 1 de maio de 2010
certo?
Posso Errar?
*por Leila Ferreira
Há pouco tempo fui obrigada a lavar meus cabelos com o xampu “errado”. Foi num hotel, onde cheguei pouco antes de fazer uma palestra e, depois de ver que tinha deixado meu xampu em casa, descobri que não havia farmácia nem shopping num raio de 10 quilômetros . A única opção era usar o dois-em-um (xampu com efeito condicionador) do kit do hotel.
Opção? Maneira de dizer. Meus cabelos, superoleosos, grudam só de ouvir a palavra “condicionador”. Mas fui em frente. Apliquei o produto cautelosamente, enxaguei, fiz a escova de praxe e... surpresa!
Os cabelos ficaram soltos e brilhantes — tudo aquilo que meus nove vidros de xampu “certo” que deixei em casa costumam prometer para nem sempre cumprir. Foi aí que me dei conta do quanto a gente se esforça para fazer a coisa certa, comprar o produto certo, usar a roupa certa, dizer a coisa certa — e a pergunta que não quer calar é: certa pra quem? Ou: certa por quê?
O homem certo, por exemplo: existe ficção maior do que essa? Minha amiga se casou com um exemplar da espécie depois de namorá-lo sete anos. Levou um mês para descobrir que estava com o marido errado. Ele foi “certo” até colocar a aliança. O que faz surgir outra pergunta:
certo até quando? Porque o certo de hoje pode se transformar no equívoco monumental de amanhã. Ou o contrário: existem homens que chegam com aquele jeito de “nada a ver”, vão ficando e, quando você se assusta, está casada — e feliz — com um deles.
E as roupas? Quantos sábados você já passou num shopping procurando o vestido certo e os sapatos certos para aquele casamento chiquérrimo e,na hora de sair para a festa, você se olha no espelho e tem a sensação de que está tudo errado? As vendedoras juraram que era a escolha perfeita, mas talvez você se sentisse melhor com uma dose menor de perfeição. Eu mesma já fui para várias festas me sentindo fantasiada.
Estava com a roupa “certa”, mas o que eu queria mesmo era ter ficado mais parecida comigo mesma, nem que fosse para “errar”.
Outro dia fui dar uma bronca numa amiga que insiste em fumar, apesar dos problemas de saúde, e ela me respondeu: “Eu sei que está errado, mas a gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem graça. O que eu queria mesmo era trair meu marido, mas isso eu não tenho coragem. Então eu fumo”. Sem entrar no mérito da questão — da traição ou do cigarro —, concordo que viver é, eventualmente,
poder escorregar o sair do tom. O mundo está cheio de regras, que vão desde nosso guarda-roupa, passando por cosméticos e dietas, até o que vamos dizer na entrevista de emprego, o vinho que devemos pedir no restaurante, o desempenho sexual que nos torna parceiros interessantes, o restaurante que está na moda, o celular que dá
status, a idade que devemos aparentar. Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado.
O filósofo Mario Sergio Cortella conta que muitas pessoas se surpreendem quando constatam que ele não sabe dirigir e tem sempre alguém que pergunta: “Como assim?! Você não dirige?!”. Com toda a calma, ele responde: “Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios — tem um punhado de coisas que eu não faço”. Não temos
que fazer tudo que esperam que a gente faça nem acertar sempre no que
fazemos. Como diz Sofia, agente de viagens que adora questionar regras: “Não sou obrigada a gostar de comida japonesa, nem a ter manequim 38 e, muito menos, a achar normal uma vida sem carboidratos”.
O certo ou o “certo” pode até ser bom. Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso.
Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro Mulheres – Por que será que elas..., da Editora Globo.
sábado, 31 de outubro de 2009
Desculpa, estou confusa...
Muito bom! O Xico Sá traduz com bom humor as mudanças de comportamento que vivemos.
Adoro ler você Xico, mas estou confusa, você seca muito meu time, sabe como é... Não é tua culpa eu torcer para o Palmeiras... Você, claro, é melhor do que eu....
QUANDO ELAS DIZEM ESTOU CONFUSA...
Xico Sá
E nos interessa sobretudo a enganação-mor, o clássico dos clássicos da nossa principal mentira. Aquela usada desde priscas eras, lembra?
Então dois pontos para acochambrar os parafusos da memória: “Estou confuso, não é culpa sua, você é ótima, mas acho que não vou lhe fazer bem nesse momento, bla-bla-bla-bla”.
Haja enganação, nove horas, truque, fraude...
Já faz tempo que essa desculpa _ “ESTOU CONFUSA...”_ só sai da boca delas.
Não faz mal, quantas vezes não usamos do mesmo artifício, da mesma falta de argumento, tá legal, eu aceito o fingimento...
Mas por favor, crias das nossas costelas, devolvam o meu caô, o meu 171, o meu agá, a minha enganação-mor, a minha forma de me livrar mais fácil e, de preferência, de forma indolor.
Encanta-me o avanço das mulheres em todos os campos e engrenagens pesadas, rebimbocas & parafusetas, só é desnecessário o quase plágio dos nossos discursos, ora, ora. Vocês não carecem disso, vocês são mais sofisticadas, mais inteligentes, mais lindas e labirínticas.
“Estou confusa...”
Estou confuso. Isso era apenas coisa de macho frouxo, não de elegantes mademoiselles. Tudo bem que vocês, belas raparigas, avancem em tudo, mas não careciam furtar logo o pior dos nossos defeitos.
Somente nesta última semana, deparei-me com quatro amigos sorumbáticos e macambúzios. Todos vítimas do “eu estou confusa, não é culpa sua etc...”
Devolvam o nosso discurso picareta, façam-me favor!
Nosso 171 exclusivo de volta!
É, amigos, toda vez que ouço um diplomático “estou confusa” saco logo meu velho serrote de galhas e chifres para poder, ao menos, entrar, humildemente, na porta de casa.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Conselhos e consultoria
Gente chata sempre tem um conselho, não dá para ser só amigo, prestar atenção e dizer que tenho razão?
Aff, Eu posso te conselhar? :-)
Então escreva-me, enviarei o número da minha conta para depósito dos meus honorários.
Eu não dou conselho e sim consultoria... bem, não preocupe-se com o preço, estou na média do mercado .
A arte de dar conselhos
Michael Kepp
Folha de São Paulo, 29/10/2009
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
De mãos dadas
O Xico Sá voltou inspirado das férias, esse é um dos melhores textos que li dele, e olha que foram muitos.
Confira, adorei!
O AMOR ENTROU MUDO E SAIU CALADO
(Xico Sá)
Talvez seja a fórmula do sucesso, o Santo Graal dos relacionamentos, a chave do mistério. Assim vivem João e Maria, como aqui batizamos camufladamente a parelha evitando o som e à fúria dos urubus plantonistas.
Meu primo Zé Humberto contou a bela história ali na calçada de Tica e Dison, sábios e queridos tios que também convivem com sabedoria e poucas palavras no discreto Sítio das Cobras, no mesmo município de Santana do Cariri adonde reina o casal mais calado do mundo.
João e Maria, meia dúzia de meninos, estão na faixa dos 65 de idade e deixaram de se falar por besteira e capricho. Certo dia, João a procurou, com teimosia e macheza, e Maria recusou-se a fazer os gostos sexuais do marido. Não estava a fim, pronto, queria ficar na dela.
O cabra voltou a insistir por mais cinco vezes nas semanas seguintes. A católica Maria, cansada de guerras e gravidezes, manteve-se na resistência. Com o orgulho de macho ferido, ele fechou a cara. Em pouquíssimo tempo descobriram o bem que fazia aquele silêncio, passaram a conviver sem discussões ou arengas, estavam a dois passos do paraíso na terra.
Com a economia de palavras, não inventam conflitos, não brigam por miudezas, não ferem e não são feridos com o mal que sai da boca do homem. Meu primo Zé Humberto, que visita aquele lar doce lar semanalmente para a venda de carne em domicílio, assegura: não há casal mais feliz nas redondezas.
Até mesmo quando estão em dúvida se compram um talho de contrafilé ou de costela, por exemplo, eles tocam de ouvido. Num simples olhar espatifam-se as dúvidas sobre o cimento da sala como em uma mágica.
Dias desses, o homem da carne flagrou João morrendo de saudade. Maria estava passeando em São Paulo. Ele morria por dentro de tanta falta. De gozação e chiste, o visitante sugeriu um telefonema, pelo menos umas duas, três unidades de crédito no orelhão da esquina. O marido saudoso até se benzeu para evitar a tentação da proposta.
João aprecia mesmo, na mirada certeira dos seus olhos semi-áridos, é olhar a sua mulher sem que ela perceba. Admirá-la dormindo, por exemplo, a extrema beleza da calada da noite. Fica horas neste exercício, relembrando o tempo em que estragavam o amor com palavras como tapurus que botam a perder as melhores goiabas.
João e Maria agoram contemplam a vida, ali nos ares da Chapada do Araripe, como um jovem casal de mãos dadas no silêncio escuro do cinema.
sábado, 17 de janeiro de 2009
Há que endurecer, mas sem perder a ternura
BOLO NÃO CRESCE SE VOCÊ NÃO AGRADECE
O tempo passou, a revolução não aconteceu, o esqueleto de Frida Kahlo virou pó e meus bolos continuaram a crescer satisfatoriamente, enquanto os de Jaqueline, agradecidos pelas dádivas que só ela via, agigantavam-se nas formas.
Marcia Frazão
Obs: este texto foi extraído de meu livro "A Cozinha Mágica de Marcia Frazão", editado pela Ediouro. A receita do Bolo de Chocolate está lá.
Agradeço a Lú que me enviou esse texto por e-mail
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Uma receita de Ano Novo dada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade:
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.
Conheça o autor e sua obra visitando "Biografias".
domingo, 2 de novembro de 2008
Os pombos do Luciano
OS POMBOS
Este ano está sendo uma festa para a mídia, olha só: tivemos o pai que jogou a menina pela janela, seguido da Olimpíada, depois as eleições, o seqüestro de Santo André e as eleições nos EUA. Quando a bola baixa temos o aquecimento global para ocupar o espaço. As tiragens e a audiência estão garantidas pela alimentação diária da percepção de que estamos em risco. Medo. Como agora, com a crise econômica.
Vou adaptar uma comparação que ouvi anos atrás, olha só: a Praça de São Marcos em Veneza é um dos mais populares pontos turísticos do mundo. Pelo significado histórico, pela arquitetura, pelos monumentos e pelos... pombos . Milhares de pombos que vivem por lá comendo das mãos dos turistas. De vez em quando uma criança ou um adulto espírito-de-porco faz "buuuuu!!". E as pombas saem voando. Como são desconfiadas, quando uma voa assustada todas as demais seguem numa revoada barulhenta.
E por algum tempo a praça fica vazia.
Aos pouquinhos as pombas começam a retornar, ainda amedrontadas e mais desconfiadas. Até sentir que o perigo passou. Então a Praça continua em festa.
A Praça, os monumentos, os turistas, os vendedores, os moradores, os trabalhadores, todos sofrem com as pombas. Mas elas são necessárias. Dão vida à praça, tornaram-se uma marca registrada e o que Veneza fez foi aprender a conviver com elas, com a sujeira, com o barulho, com a impertinência.
De tempos em tempos algumas medidas devem ser tomadas para controlar a superpopulação, para evitar que as doenças se espalhem e que prejuízos sejam causados à praça e às pessoas. É quando alguns pombos têm que ser abatidos. Mas esse é o preço do equilíbrio naquele caos.
Muito bem. O “mercado global” é como a Praça de São Marcos. E os pombos são como os investidores. São nervosos, fazem montes de cagadas e precisam de controle ou destroem tudo. E a qualquer sinal de perigo saem voando.
A praça precisa dos pombos, tanto quanto o mercado precisa dos investidores. E os pombos precisam da praça. Sem a praça os pombos perdem. Sem os pombos, a praça perde.
E na crise, como pombos, todo mundo está apavorado e recolhido enquanto os "sanitaristas" aplicam superdoses de remédios e a esquerda tenta enterrar o capitalismo – o doente que não morreu.
Sabe o que é que vai acontecer?
Já-já a crise de confiança começa a passar. Os pombos voltarão e a muita gente encontrará oportunidades fantásticas naquele excesso de remédios. E fortunas serão criadas sobre as que foram destruídas.
O capitalismo não morreu, o mercado não morreu. Como a Praça, estão lá à espera do retorno dos pombos.
Um dia, num futuro distante, o mar vai tragar Veneza e a Praça de São Marcos. E as pombas buscarão outra praça. Os “companheiros” dirão que é culpa do capitalismo, que causou o aquecimento global que derreteu as calotas polares. E continuarão pregando a morte do capitalismo e aquela utopia socialista muito bem definida por um bispo anglicano chamado Mendell Creighton:
"Socialismo só será possível quando todos nós fomos perfeitos. Aí ele não será necessário".
Tem sido assim desde sempre.
Olha, eu também quero que todos sejamos perfeitos.
Mas enquanto somos só pombos vou dar uma voadinha até a Praça pra ver se acho uns milhozinhos.
Luciano Pires
WWW.lucianopires.com.br
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Como esquecer um amor
O pé-na-bunda de um abduzido é a coisa mais triste que pode haver em termos de relacionamentos amorosos. Triste porque ao longo da abdução o sujeito jogou o amor-próprio no lixo, submetendo-se às vontades do outro mais do que deveria. E agora, vai ter que voltar à lata de lixo, revirá-la até encontrar seu velho e puído amor-próprio novamente.
Pára tudo!
Este é um momento decisivo, é o clímax de toda a sua curva dramática.
1º passo: Corra, Lola! Run, Forrest!
2º passo: Ex não é amigo.
3º passo: Deixe de ser masoquista!
4º passo: Provocar ciúme pra quê?
5º passo: Produza!
6º passo: Não se iluda.
Nota do Editor
Leia também "Receita para se esquecer um grande amor".
Pilar Fazito
Belo Horizonte, 28/7/2008
fonte: Digestivo Cultural
sábado, 12 de julho de 2008
Perdas
Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de
inutilidade,de vazio...
Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido...
Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: as perdas do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero.
Estamos, a partir de então, por nossa conta.
Sozinhos!!!!
Começamos a vida em perda e nela continuamos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem.
Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo.
Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói...
E continuamos a perder... e seguimos a ganhar!
Perdemos primeiro a inocência da infância.
A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas por que alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair...
E ao perde-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê?
Perguntamos a todos e de tudo...
Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas,
irremediavelmente deixadas para trás... Estamos crescendo!!!
Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer, renascer (?)...
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros.
Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando
algo nos é tomado contra a vontade.
Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela
cabeça sem medo de causar melindres.
Assim, se nossa tia às vezes nos parece gorda tememos dizer-lhe isso.
Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda ridícula do vizinho ou puxar as pelanquinhas do braço da vó com a maior naturalidade do mundo e ainda falar bem alto sobre o assunto.
Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros.
E aprendemos... E vamos adolescendo...
Ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pêlos, ganhamos altura....
Ganhamos o mundo!!!!!
Neste ponto, vivemos em grande conflito.
Sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.
Aí de repente, caímos na real!
Estamos amadurecendo... todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados.
Perdemos a espontaneidade...
Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima (?) dos
outros animais?
A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo lógico e racionalmente planejado? (???)
E continuamos amadurecendo....
Ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma.
E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos (...)
Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele
beijo estalado...
Mas apertamos as mãos de todos, ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos, honorários e a chave da cidade...
E assim, vamos ganhando tempo...
Enquanto envelhecemos.
De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso... e perdemos cabelos.
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir... perdemos a esperança!!!!
Estamos envelhecendo...
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo...
afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede...
Que a gente cresça e não envelheça simplesmente...
Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie...
Que tenhamos rugas e boas lembranças...
Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia...
Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos...
E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados...
"CORAGEM NÃO É DEIXAR DE ARRISCAR... MAS É ARRISCAR MESMO COM MEDO!"
Recebi por e-mail
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Percepção do tempo
Aldo Novak, coach & conferencista - Diretor da Academia Novak
Então... quando tempo suficiente houver passado, você perderá completamente a noção das horas, dos dias... ou anos. Estou exagerando para efeito didático, mas em essência é o que ocorreria. Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Se alguém tirar estes sinais sensoriais da nossa vida, simplesmente perdemos a noção da passagem do tempo.
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.
Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia. Para que não fiquemos loucos, o cérebro faz parecer que nós não vimos, não sentimos e não vivenciamos aqueles pensamentos automáticos, repetidos, iguais.
Por isso, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo.
Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e "apagando" as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.
Quando começamos a dirigir, tudo parece muito complicado, o câmbio, os espelhos, os outros veículos... nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia conseguimos dirigir trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular (proibido no Brasil), ao mesmo tempo. E você usa apenas uma pequena "área" da atenção para isso.
Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência).
Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa... são apagados de sua noção de passagem do tempo...
Porque estou explicando isso?
Que relação tem isso com a aparente aceleração do tempo?
Tudo. A primeira vez que isso me ocorreu foi quando passei três meses nas florestas de New Hampshire, Estados Unidos, morando em uma cabana. Era tudo tão diferente, as pessoas, a paisagem, a língua, que eu tinha dores de cabeça sempre que viajava em uma estrada, porque meu cérebro ficava lendo todas as placas (eu lia mesmo, pois era tudo novidade, para mim).
Foram somente três meses, mas ao final do segundo mês eu já me sentia como se estivesse há um ano longe do Brasil. Foi quando comecei a pesquisar a razão dessa diferença de percepção.
Bastou eu voltar ao Brasil e o tempo voltou a "acelerar".
Pelo menos, assim parecia. Veja, quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.
Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... r-o-t-i-n-a.
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
O ANTÍDOTO PARA A ACELERAÇÃO DO TEMPO: "M & M"
Felizmente há um antídoto: Mude e Marque. Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.
Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.
Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia). Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais.
Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe da formatura de sua turma, visite parentes distantes, vá a uma final de campeonato, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no natal, ou faça os enfeites com frutas da região e a participação das crianças, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor - faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos... em outras palavras...
V I V A!
Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado (a) com alguém disposto (a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais.. vivo... do que a maioria dos livros da vida que existem por ai.
Se você não tiver mais a esposa, ou o marido, cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é?
Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.
domingo, 15 de junho de 2008
Tenho trabalhado tanto...mas penso tanto em você
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais.
Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Cl ack! como se fosse verdade, um beijo.
Caio Fernando Abreu, em Um Provável Devaneio
terça-feira, 27 de maio de 2008
Gestos amorosos - Rubem Alves

sexta-feira, 23 de maio de 2008
Não mata, não engorda e não faz mal
A mulher e a bola
Xico Sá
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, quando o Pereira me disse que ninguém fazia mais sexo na terra da rainha, eu achei que era só um dos seus tantos chistes geniais. Mas que nada, qual o quê, era a mais certeira das verdades. Ciente de pesquisa divulgada pela BBC, Pereira, recrutador e olheiro de luxuosa casa de tolerância de São Paulo, volta à forra: "Sexo é coisa de estivador, a Europa não perde mais tempo com esse ato selvagem".
É, amigo, seis em cada dez europeus preferem futebol a uma conjunção carnal. Entre o Chelsea e uma noite com Kate Moss, o time, óbvio. Mesmo considerando que as européias, na média, não têm o latifúndio dorsal das nossas Paraguaçus, não deixa de ser surpreendente.
Pereira acredita que os brasileiros já seguem a tendência, apesar da cerimônia em revelar, numa nice, a tal troca. Ele mesmo largou a sua morena da praia para ver o embate dos aristocráticos tricolores no Maraca.
A gazela ainda tentou, após o gol do galalau Washington, uns cafunés, um vem-cá-meu-nego, um xenhenhém, e nada. Só viu escorrer no rosto do Pereira as duas lágrimas geladas da música do Wando.
Quando o São Paulo vence, Pereira até que vai para cima, ganha o moto-rádio da alcova, vira uma espécie de Adriano nas grandes noites. A pesquisa gringa explica: quando o time do macho triunfa, ele ganha 27,6% a mais de testosterona.
Imagine, amigo, como devem estar envernizados, como diz a lírica brega do grupo Academia da Berlinda, os torcedores do Sport. Ainda mais quando o Leão do Norte joga na Ilha de Lost, como os rubronegros chamam agora a sua casa, onde os adversários se perdem, lesadamente, em campo, conforme sopra aqui o escriba Carlyle Paes Barreto.
Os gravatinhas do Flu também estão assanhados, embora vislumbrem, além das mesas do Serafim e da rua Alice, o Boca. Pereira não fala do assunto. Tapeia o cronista falando mais uma vez da pesquisa. "Você viu que 88% responderam ter abraçado e até beijado desconhecidos na celebração de gols ou de vitórias?"
É, amigo, o amor é mesmo lindo nas arquibancadas. O mais intransigente dos machões agarra o homem do lado sem medo de sair mal na foto. A maioria dos homens chora nos grandes triunfos ou quedas de impérios ludopédicos, mesmo aqueles de olhos secos e corações siberianos.
Os mais chorões são os portugueses, diz o estudo. Aumentam em um palmo as águas do Tejo quando o Benfica fracassa no Estádio da Luz, a sagrada catedral. Choram e soluçam enquanto recitam um fado, um rock do Xutos & Pontapés ou o último soneto de Mário Sá-Carneiro.
Lição do ABC
O Edgar, o mal-assombrado corvo que ganhou animação de Caco Galhardo para o "Cartão Verde" (Cultura), informa o seu destino no feriadão: Rio Grande do Norte. Espera no maior cajueiro do mundo, aquele de Pirangi, o Corinthians.
Mano Menezes e elenco que se cuidem. O Frasqueirão, "La Bombonera potiguar", vai ferver bonito. Já decorou até a música de Roberto Ney e Guaracy Picado para o time de Natal: "Aonde fores ABC eu hei de ir./Tua bandeira nos meus braços vou erguer/ Gritar teu nome nos estádios aplaudir...".
Fonte: Folha de São Paulo, 23/05/2008
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Ô vontade
Ô vontade de fazer como o padre dos balões coloridos
E pelos ares dar um belo perdido
E cair vivo beeeeem distante
Como um Walt Whitman delirante
Mesmo que na ilha
não tenha sequer um radinho de pilha
O que vale é virar um Robinson Crusoé
...só pra ver qualé, mané!
Mesmo que lá não tenha futebol
E os deuses brinquem de chutar o sol
Mesmo que não tenha puteiro...
Me acabo na mão feito colher de pedreiro
Dou um belo balão no cartão visa
E vou viver de flozô e brisa
Recitando Vinícius e Bandeira
Para a minha mulher-bananeira
Ô vontade de fazer como o padre maluco
E cair direto na Aurora, Recife, Pernambuco
Porque mais vale um vigário voando
Do que dois ateus vagabundos
Mesmo que nos ares vire uma noviça
E dê até para o coroinha da missa
Ô vontade de ser o padre perdido
que deu um balão em Jesus Cristo
Quem me dera a coragem do vigário
E eu deixasse mesmo de ser otário.
Saísse de vez do plano terreno...
Pense!, imagine, meu caro John Lennon!

domingo, 20 de abril de 2008
Quantas mentiras nos contaram
Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa acreditar, ainda por cima, se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.
Uma das mentiras: que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não podemos.
Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.
Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?
Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres – e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.
Ah, quanta mentira!
Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão às ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.
Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.
Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.
É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.
Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.
Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco – para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.
Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.
E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver. Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.
Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.
Parabéns para quem consegue fingir tudo isso...
Danuza Leão
domingo, 6 de abril de 2008
BREVE CÓDIGO DE ETIQUETA AMOROSA
Regra número um para uma boa convivência e o ciúme despertado com as novas tecnologias: nunca vasculhe os e-mails dele(a), não investigue as chamadas de celulares, computadores... É como diz a velha história, quem procura acha. Pior, quem interpreta de forma enlouquecida, já picado(a) pelo mosquito do ciúme, pode fazer a maior besteira desse mundo. Um estrago. Basta um e-mail de um(a) amigo(a) para que a casa venha abaixo, no mais desnecessário barraco.
Na balada: saídas em separado, cada um com os seus amigos, devem ser preservadas. Fica liberada a paquera leve, aquela constituída dos bons olhares que fazem bem à alma, olhares sem a intenção de conquista.
Dos presentes: não devem ser dados apenas no aniversário, Dia dos Namorados, efeméride de casamento. Quanto mais inesperado, melhor. E não carece gastar muito, o que vale é a paixão renovada, pode ser um diamante ou um Sonho de Valsa.
Com que roupa: no começo dos relacionamentos, não convém deixar muitas peças do vestuário na casa dele(a). Muitos moços preferem evoluir no namoro aos poucos. Peças íntimas de reserva são bem-vindas, desde que não ultrapassem a meia dúzia, cota bem sensata. Sim, os homens andam muito medrosos.
Do fantasma da ex: A menos que seja um caso escandaloso de intromissão e descaramento, não dê muita bola para a ex dele, trate de forma banal o assunto, como se não tivesse importância, mesmo que tenha que fazer um pouco de teatro com esse objetivo. Ciúme retroativo é atraso de vida e só vai instigar o mancebo para a sua ex-costela.
Momentos sagrados: amigas, é de bom-tom saber, logo no início do relacionamento, o time do coração dos seus mancebos, para evitar aquele longo telefonema justo na hora da decisão do campeonato. Não precisam ler o caderno de esportes inteiro, apenas aquele quadradinho "jogos de hoje". Boa notícia, ainda sobre o mesmo caso: quando o clube dele ganha, rezam pesquisas americanas, sobe em até 26,7% a quantidade de testosterona do rapaz. Bom proveito!
P.S. Em casos extremos, lembre-se, a etiqueta existe para ser desobedecida, desde que seja para preservar a sua estima e o amor propriamente dito.
Xico Sá
sábado, 22 de março de 2008
Quando o silêncio fala alto
A Voz Do Silêncio
Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.
Simples, rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
Martha Medeiros
quinta-feira, 20 de março de 2008
Sodoma, Gomorra ou New York?
Achei muito bom o artigo do Lucas Mendes: Sodoma, Gomorra, New York, New York, publicado na BBC Brasil. Ele analisa o puritanismo na política americana.
"Os políticos de Nova York nunca jogaram no time dos puritanos. Já nos primeiros anos da República, os líderes do Estado apimentavam as conversas das melhores e piores famílias com seus escândalos sexuais."
e continua....
"A confissão dele mereceu editoriais e apoio inclusive dos adversários republicanos. Contou está contado e zerado, é o que nos garantem.
Não acredite.
Como a gente sabe, político raramente conta a história toda. Os labradores já estão cavando as prestações de contas dele e num dos cartões de crédito aparecem certas despesas com hotéis e refeições pagos com dinheiro que só podia ser usado para campanha política."