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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Não mata, não engorda e não faz mal

A mulher e a bola
Xico Sá

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, quando o Pereira me disse que ninguém fazia mais sexo na terra da rainha, eu achei que era só um dos seus tantos chistes geniais. Mas que nada, qual o quê, era a mais certeira das verdades. Ciente de pesquisa divulgada pela BBC, Pereira, recrutador e olheiro de luxuosa casa de tolerância de São Paulo, volta à forra: "Sexo é coisa de estivador, a Europa não perde mais tempo com esse ato selvagem".

É, amigo, seis em cada dez europeus preferem futebol a uma conjunção carnal. Entre o Chelsea e uma noite com Kate Moss, o time, óbvio. Mesmo considerando que as européias, na média, não têm o latifúndio dorsal das nossas Paraguaçus, não deixa de ser surpreendente.

Pereira acredita que os brasileiros já seguem a tendência, apesar da cerimônia em revelar, numa nice, a tal troca. Ele mesmo largou a sua morena da praia para ver o embate dos aristocráticos tricolores no Maraca. A gazela ainda tentou, após o gol do galalau Washington, uns cafunés, um vem-cá-meu-nego, um xenhenhém, e nada. Só viu escorrer no rosto do Pereira as duas lágrimas geladas da música do Wando.

Quando o São Paulo vence, Pereira até que vai para cima, ganha o moto-rádio da alcova, vira uma espécie de Adriano nas grandes noites. A pesquisa gringa explica: quando o time do macho triunfa, ele ganha 27,6% a mais de testosterona.

Imagine, amigo, como devem estar envernizados, como diz a lírica brega do grupo Academia da Berlinda, os torcedores do Sport. Ainda mais quando o Leão do Norte joga na Ilha de Lost, como os rubronegros chamam agora a sua casa, onde os adversários se perdem, lesadamente, em campo, conforme sopra aqui o escriba Carlyle Paes Barreto.

Os gravatinhas do Flu também estão assanhados, embora vislumbrem, além das mesas do Serafim e da rua Alice, o Boca. Pereira não fala do assunto. Tapeia o cronista falando mais uma vez da pesquisa. "Você viu que 88% responderam ter abraçado e até beijado desconhecidos na celebração de gols ou de vitórias?"

É, amigo, o amor é mesmo lindo nas arquibancadas. O mais intransigente dos machões agarra o homem do lado sem medo de sair mal na foto. A maioria dos homens chora nos grandes triunfos ou quedas de impérios ludopédicos, mesmo aqueles de olhos secos e corações siberianos.

Os mais chorões são os portugueses, diz o estudo. Aumentam em um palmo as águas do Tejo quando o Benfica fracassa no Estádio da Luz, a sagrada catedral. Choram e soluçam enquanto recitam um fado, um rock do Xutos & Pontapés ou o último soneto de Mário Sá-Carneiro.

Lição do ABC

O Edgar, o mal-assombrado corvo que ganhou animação de Caco Galhardo para o "Cartão Verde" (Cultura), informa o seu destino no feriadão: Rio Grande do Norte. Espera no maior cajueiro do mundo, aquele de Pirangi, o Corinthians.
Mano Menezes e elenco que se cuidem. O Frasqueirão, "La Bombonera potiguar", vai ferver bonito. Já decorou até a música de Roberto Ney e Guaracy Picado para o time de Natal: "Aonde fores ABC eu hei de ir./Tua bandeira nos meus braços vou erguer/ Gritar teu nome nos estádios aplaudir...".

Fonte: Folha de São Paulo, 23/05/2008

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