Conte-me tudo...

Escreva para mim Lilica

Translate This Blog

"Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Machado de Assis"
"Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito." Clarice Lispector.
"Sonhar é o melhor de tudo e muito melhor do que nada!" Luiz Fernando Veríssimo .
Mostrando postagens com marcador Xico Sá. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Xico Sá. Mostrar todas as postagens

sábado, 31 de outubro de 2009

Desculpa, estou confusa...

Muito bom! O Xico Sá traduz com bom humor as mudanças de comportamento que vivemos. Adoro ler você Xico, mas estou confusa, você seca muito meu time, sabe como é... Não é tua culpa eu torcer para o Palmeiras... Você, claro, é melhor do que eu....

QUANDO ELAS DIZEM ESTOU CONFUSA...

Xico Sá

Amigos machos, amigas fêmeas, como berram nas suas manchetes as revistas de modas & modinhas, o homem é mesmo a nova mulher e vice-versa.


O que impressiona o cronista não é nem o troca-troca de sexos, tampouco a confusão dos gêneros e suas modernidades. O que mais chama a atenção é o discurso amoroso de mãos trocadas: cada vez mais a mulher fala como homem e o homem, por seu modo, cada vez mais afina a voz e choraminga como uma mulher leitora de romances do tipo Sabrina, saca?


Óbvio que resguardamos, nessas pás-viradas todas, os cafundós à prova de redemoinhos nos costumes e outras acontecências ditas civilizatórias, como nos sertões profundos, por exemplo, onde homem continua sendo homem, mulher segue mulher e é dito homossexual apenas a passiva criatura, jamais a que faz o agrado de fato e de direito no fiofó do seu semelhante.


Mas paremos nosso jegue metafísico por aqui, na questão dos discursos. Sim, a apropriação da fala desculposa e masculina por parte das mulheres, já notaram? Não chega a ser bem um plágio histórico, mas é uma beleza, quase, quase!


E nos interessa sobretudo a enganação-mor, o clássico dos clássicos da nossa principal mentira. Aquela usada desde priscas eras, lembra?


Então dois pontos para acochambrar os parafusos da memória: “Estou confuso, não é culpa sua, você é ótima, mas acho que não vou lhe fazer bem nesse momento, bla-bla-bla-bla”.


Haja enganação, nove horas, truque, fraude...


Já ouviram esse fragmento do discurso nada amoroso, né?


Pra completar: “Você merece algo melhor!!!”


Repito, era um clássico das desculpas dos machos. A nossa maior falta de vergonha na cara.


Agora ouvimos a mesma ladainha da boca das moças, que onda!


Já faz tempo que essa desculpa _ “ESTOU CONFUSA...”_ só sai da boca delas.


Não faz mal, quantas vezes não usamos do mesmo artifício, da mesma falta de argumento, tá legal, eu aceito o fingimento...


Mas por favor, crias das nossas costelas, devolvam o meu caô, o meu 171, o meu agá, a minha enganação-mor, a minha forma de me livrar mais fácil e, de preferência, de forma indolor.


Encanta-me o avanço das mulheres em todos os campos e engrenagens pesadas, rebimbocas & parafusetas, só é desnecessário o quase plágio dos nossos discursos, ora, ora. Vocês não carecem disso, vocês são mais sofisticadas, mais inteligentes, mais lindas e labirínticas.


“Estou confusa...”
(Me veio até, do sótão do cocoruto, a velha imagem de Didi Mocó no seu clássico “Estou cafuso, estou cafuso!”)


Estou confuso. Isso era apenas coisa de macho frouxo, não de elegantes mademoiselles. Tudo bem que vocês, belas raparigas, avancem em tudo, mas não careciam furtar logo o pior dos nossos defeitos.


Somente nesta última semana, deparei-me com quatro amigos sorumbáticos e macambúzios. Todos vítimas do “eu estou confusa, não é culpa sua etc...”


Devolvam o nosso discurso picareta, façam-me favor!


Nosso 171 exclusivo de volta!
Sim, outro clássico, o “não é nada disso que vocês estão pensando”, já mudou de boca também faz tempo. Agora derrete o batom e o gloss das lindas filhas de Eva.


É, amigos, toda vez que ouço um diplomático “estou confusa” saco logo meu velho serrote de galhas e chifres para poder, ao menos, entrar, humildemente, na porta de casa.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

De mãos dadas

O Xico Sá voltou inspirado das férias, esse é um dos melhores textos que li dele, e olha que foram muitos.

Confira, adorei!

O AMOR ENTROU MUDO E SAIU CALADO
(Xico Sá)

Um casal vive há 20 anos, na mais perfeita harmonia, sem trocar uma palavra. Nem um monossílabo, nem um pantim, nem um grunhido, nem um muxoxo, nem um arrulho, apenas o silêncio a lastrear o lindo amor dos pombinhos.

Talvez seja a fórmula do sucesso, o Santo Graal dos relacionamentos, a chave do mistério. Assim vivem João e Maria, como aqui batizamos camufladamente a parelha evitando o som e à fúria dos urubus plantonistas.

Meu primo Zé Humberto contou a bela história ali na calçada de Tica e Dison, sábios e queridos tios que também convivem com sabedoria e poucas palavras no discreto Sítio das Cobras, no mesmo município de Santana do Cariri adonde reina o casal mais calado do mundo.

João e Maria, meia dúzia de meninos, estão na faixa dos 65 de idade e deixaram de se falar por besteira e capricho. Certo dia, João a procurou, com teimosia e macheza, e Maria recusou-se a fazer os gostos sexuais do marido. Não estava a fim, pronto, queria ficar na dela.

O cabra voltou a insistir por mais cinco vezes nas semanas seguintes. A católica Maria, cansada de guerras e gravidezes, manteve-se na resistência. Com o orgulho de macho ferido, ele fechou a cara. Em pouquíssimo tempo descobriram o bem que fazia aquele silêncio, passaram a conviver sem discussões ou arengas, estavam a dois passos do paraíso na terra.

Com a economia de palavras, não inventam conflitos, não brigam por miudezas, não ferem e não são feridos com o mal que sai da boca do homem. Meu primo Zé Humberto, que visita aquele lar doce lar semanalmente para a venda de carne em domicílio, assegura: não há casal mais feliz nas redondezas.

Até mesmo quando estão em dúvida se compram um talho de contrafilé ou de costela, por exemplo, eles tocam de ouvido. Num simples olhar espatifam-se as dúvidas sobre o cimento da sala como em uma mágica.

Dias desses, o homem da carne flagrou João morrendo de saudade. Maria estava passeando em São Paulo. Ele morria por dentro de tanta falta. De gozação e chiste, o visitante sugeriu um telefonema, pelo menos umas duas, três unidades de crédito no orelhão da esquina. O marido saudoso até se benzeu para evitar a tentação da proposta.

João aprecia mesmo, na mirada certeira dos seus olhos semi-áridos, é olhar a sua mulher sem que ela perceba. Admirá-la dormindo, por exemplo, a extrema beleza da calada da noite. Fica horas neste exercício, relembrando o tempo em que estragavam o amor com palavras como tapurus que botam a perder as melhores goiabas.

João e Maria agoram contemplam a vida, ali nos ares da Chapada do Araripe, como um jovem casal de mãos dadas no silêncio escuro do cinema.



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sem dedicatórias

Faz muito tempo que não posto os escritos do Xico Sá, mas esse eu não resisti...

UM CARTÃO POSTAL DO FIM DO MUNDO

descer em cima de ti mais um pouco, até mais ou menos um palmo diante dos teus olhos, e dizer eu te amo com a convicção de um míope/astigmático no escuro... sem trilha, sem blues, peleja de cego em becos alexandrinos, mineiro suicida de Émile Zola a palo seco, essas coisas que guardo e prezo da soma das ignorâncias, passa a régua iluminista de uma figa, essas coisas da feira, da peixeira e dos livros. o eu te amo como música final e única da banda esquerda do meu corpo que toca de ouvido, tripas & corazones, o rolling stones goats head soups, o nada que sou e era e o futuro-bundinha-pra-cima numa praia deserta donde te imagino ao meu lado, fui, baby, o resto é cartão postal que te mandarei do fim do mundo.


Escrito por xico sá às 02h11

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Não mata, não engorda e não faz mal

A mulher e a bola
Xico Sá

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, quando o Pereira me disse que ninguém fazia mais sexo na terra da rainha, eu achei que era só um dos seus tantos chistes geniais. Mas que nada, qual o quê, era a mais certeira das verdades. Ciente de pesquisa divulgada pela BBC, Pereira, recrutador e olheiro de luxuosa casa de tolerância de São Paulo, volta à forra: "Sexo é coisa de estivador, a Europa não perde mais tempo com esse ato selvagem".

É, amigo, seis em cada dez europeus preferem futebol a uma conjunção carnal. Entre o Chelsea e uma noite com Kate Moss, o time, óbvio. Mesmo considerando que as européias, na média, não têm o latifúndio dorsal das nossas Paraguaçus, não deixa de ser surpreendente.

Pereira acredita que os brasileiros já seguem a tendência, apesar da cerimônia em revelar, numa nice, a tal troca. Ele mesmo largou a sua morena da praia para ver o embate dos aristocráticos tricolores no Maraca. A gazela ainda tentou, após o gol do galalau Washington, uns cafunés, um vem-cá-meu-nego, um xenhenhém, e nada. Só viu escorrer no rosto do Pereira as duas lágrimas geladas da música do Wando.

Quando o São Paulo vence, Pereira até que vai para cima, ganha o moto-rádio da alcova, vira uma espécie de Adriano nas grandes noites. A pesquisa gringa explica: quando o time do macho triunfa, ele ganha 27,6% a mais de testosterona.

Imagine, amigo, como devem estar envernizados, como diz a lírica brega do grupo Academia da Berlinda, os torcedores do Sport. Ainda mais quando o Leão do Norte joga na Ilha de Lost, como os rubronegros chamam agora a sua casa, onde os adversários se perdem, lesadamente, em campo, conforme sopra aqui o escriba Carlyle Paes Barreto.

Os gravatinhas do Flu também estão assanhados, embora vislumbrem, além das mesas do Serafim e da rua Alice, o Boca. Pereira não fala do assunto. Tapeia o cronista falando mais uma vez da pesquisa. "Você viu que 88% responderam ter abraçado e até beijado desconhecidos na celebração de gols ou de vitórias?"

É, amigo, o amor é mesmo lindo nas arquibancadas. O mais intransigente dos machões agarra o homem do lado sem medo de sair mal na foto. A maioria dos homens chora nos grandes triunfos ou quedas de impérios ludopédicos, mesmo aqueles de olhos secos e corações siberianos.

Os mais chorões são os portugueses, diz o estudo. Aumentam em um palmo as águas do Tejo quando o Benfica fracassa no Estádio da Luz, a sagrada catedral. Choram e soluçam enquanto recitam um fado, um rock do Xutos & Pontapés ou o último soneto de Mário Sá-Carneiro.

Lição do ABC

O Edgar, o mal-assombrado corvo que ganhou animação de Caco Galhardo para o "Cartão Verde" (Cultura), informa o seu destino no feriadão: Rio Grande do Norte. Espera no maior cajueiro do mundo, aquele de Pirangi, o Corinthians.
Mano Menezes e elenco que se cuidem. O Frasqueirão, "La Bombonera potiguar", vai ferver bonito. Já decorou até a música de Roberto Ney e Guaracy Picado para o time de Natal: "Aonde fores ABC eu hei de ir./Tua bandeira nos meus braços vou erguer/ Gritar teu nome nos estádios aplaudir...".

Fonte: Folha de São Paulo, 23/05/2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ô vontade

RONDÓ DO PADRE VOADOR

Ô vontade de fazer como o padre dos balões coloridos

E pelos ares dar um belo perdido

E cair vivo beeeeem distante

Como um Walt Whitman delirante

Mesmo que na ilha

não tenha sequer um radinho de pilha

O que vale é virar um Robinson Crusoé

...só pra ver qualé, mané!

Mesmo que lá não tenha futebol

E os deuses brinquem de chutar o sol

Mesmo que não tenha puteiro...

Me acabo na mão feito colher de pedreiro

Dou um belo balão no cartão visa

E vou viver de flozô e brisa

Recitando Vinícius e Bandeira

Para a minha mulher-bananeira

Ô vontade de fazer como o padre maluco

E cair direto na Aurora, Recife, Pernambuco

Porque mais vale um vigário voando

Do que dois ateus vagabundos

Mesmo que nos ares vire uma noviça

E dê até para o coroinha da missa

Ô vontade de ser o padre perdido

que deu um balão em Jesus Cristo

Quem me dera a coragem do vigário

E eu deixasse mesmo de ser otário.

Saísse de vez do plano terreno...

Pense!, imagine, meu caro John Lennon!

Escrito por xico sá

domingo, 6 de abril de 2008

BREVE CÓDIGO DE ETIQUETA AMOROSA

Regra número um para uma boa convivência e o ciúme despertado com as novas tecnologias: nunca vasculhe os e-mails dele(a), não investigue as chamadas de celulares, computadores... É como diz a velha história, quem procura acha. Pior, quem interpreta de forma enlouquecida, já picado(a) pelo mosquito do ciúme, pode fazer a maior besteira desse mundo. Um estrago. Basta um e-mail de um(a) amigo(a) para que a casa venha abaixo, no mais desnecessário barraco.

Na balada: saídas em separado, cada um com os seus amigos, devem ser preservadas. Fica liberada a paquera leve, aquela constituída dos bons olhares que fazem bem à alma, olhares sem a intenção de conquista.

Dos presentes: não devem ser dados apenas no aniversário, Dia dos Namorados, efeméride de casamento. Quanto mais inesperado, melhor. E não carece gastar muito, o que vale é a paixão renovada, pode ser um diamante ou um Sonho de Valsa.

Com que roupa: no começo dos relacionamentos, não convém deixar muitas peças do vestuário na casa dele(a). Muitos moços preferem evoluir no namoro aos poucos. Peças íntimas de reserva são bem-vindas, desde que não ultrapassem a meia dúzia, cota bem sensata. Sim, os homens andam muito medrosos.

Do fantasma da ex: A menos que seja um caso escandaloso de intromissão e descaramento, não dê muita bola para a ex dele, trate de forma banal o assunto, como se não tivesse importância, mesmo que tenha que fazer um pouco de teatro com esse objetivo. Ciúme retroativo é atraso de vida e só vai instigar o mancebo para a sua ex-costela.

Momentos sagrados: amigas, é de bom-tom saber, logo no início do relacionamento, o time do coração dos seus mancebos, para evitar aquele longo telefonema justo na hora da decisão do campeonato. Não precisam ler o caderno de esportes inteiro, apenas aquele quadradinho "jogos de hoje". Boa notícia, ainda sobre o mesmo caso: quando o clube dele ganha, rezam pesquisas americanas, sobe em até 26,7% a quantidade de testosterona do rapaz. Bom proveito!

P.S. Em casos extremos, lembre-se, a etiqueta existe para ser desobedecida, desde que seja para preservar a sua estima e o amor propriamente dito.

Xico Sá

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A GENTE SE VÊ

“A gente se vê.” Pronto, phodeu, eis a senha para o nunca mais, o “never more” do corvo do tio Edgar A. Poe.

A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá.

A gente se vê. Corta para uma saída de estádio lotado em dia de decisão do campeonato.

A gente se vê. Corta para “onde está Wally”.

Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.

Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam.

Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rock´s.

A gente se vê uma ova. Seja homem, troque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, ora, ora.

Como canta o Rei, use a inteligência uma vez só.

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

A gente se vê é pior do que a gente se esbarra por ai. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.

Melhor dizer logo “foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MAS, como na camiseta mexicana que ganhei. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.

A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê é a vovozinha da fábula, ora!

Seja homem, diga na lata.

Não engane a moça, que a nega é fino trato, que não merece desdém.

A fila anda, jogue limpo.

A gente se vê. Corta para uma multidão no Galo da Madrugada. A gente se vê. A gente se vê. Corta para a festa do Círio de Nazaré. A gente se vê. Corta para a festa do Morro da Conceição. A gente se vê. Corta para o dia de Iemanjá em Salvador. A gente se vê. Corta para o reveillon na praia de Copacabana.

A gente se vê. Então aproveita e vai logo ver se eu estou na esquina da São João com a Ipiranga.


Escrito por xico sá

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Você resiste a quebra do sigilo amoroso ou sexual?

MAIS UMA CPI DO AMOR E DO SEXO

Uma amiga, senhorita F., entrou na caixa postal do correio eletrônico do marido. Ih, lá vem a mesmíssima história, phodeu com ph, já vi esse legítimo Hitchcock dos lares doces lares mil vezes, esse Stephen King do amor e da sorte, esse ato bestialmente repetitivo e sempre monstruoso.

Pra completar, a senhorita F. deu uma sherlockadazinha também no celula, de leve, enquanto o traste-costela via lesadamente o Fla-Flu de domingo.

Um desastre.

Entre cantadas e semi-cantadas ou apenas bobagens virtuais, leros, flertes, lirismos avulsos e outras gracitas..., a amiga entrou em desespero, gritou, berrou, imitou o quadro do Munch, discutiu a relação por uma semana, e quase acaba com aquela vida sob o mesmo teto até então reconhecida no seu grupo de amizade como exemplar. Casal invejável. Do tipo “assim vale a pena viver colado no superbonder e na goma-arábica amorosa”.

O cabrón tinha algum caso para valer? Não. Algum namorico mais a sério? Nada. Havia transado com alguém e comentava que foi bom, meu bem?, essas coisas?! Nécaras.

Tudo espuma flutuante, sem lastro de verdade, garrafas atiradas aos mares da virtualidade e suas sereias ulyssianas.

Mas foi o bastante para uma baita crise.

Por estas e por outras é que não é nada recomendável quebrar o sigilo postal do companheiro ou da fofolete.

Ora, quem, entre nós, resistiria a meia hora de quebra do sigilo amoroso ou sexual?

Como na arrecadação de recursos para campanhas eleitorais, todo mundo, até mesmo no mais escondido dos conventos de devotas beneditinas, já teve o seu “caixa 2” do desejo. Em pensamentos, atos ou omissões, tanto faz.

Em telefonemas, emails ou declarações bêbadas na madruga. No MSN, entonces, ave palavra!

Ninguém resiste a meia hora de quebra de sigilo. No amor, somos todos, em alguma ocasião, corruptos. Em maior ou menor grau, todos damos nossas pisadas ou nossas phodas platônicas.

Menos naquela hora em que a paixão por alguém nos toma 100% do cérebro e a febre amorosa é capaz de quebrar termômetro. Depois passa, é o que dizem, inclusive a ciência, que dá um prazo de validade às paixões de três meses... ou seis meses, menos de um ano, com certeza –preguiça monstra de entrar mais uma vez no google.

Nosso destino é pecar, como disse o pudico Nelson, padrinho espiritual deste cronista. Por estas plagas, até a virtude prevarica.

Às sextas-feiras, então,já repararam como o cheiro de pecado toma conta dos bares e é mais forte até do que o odor que vem dos ralos e bueiros?

Quem, entre nós, machos & fêmeas, resistiria a uma CPI do amor ou do sexo?

Este cronista ficaria rico, na pele de um camelô de álibis. Ah, as lindas e impagáveis fraquezas da carne.

As despesas com jantares à luz de vela denunciariam os amantes pelo cartão de crédito ou no extrato para simples conferência. Os porteiros de prédios e motéis seriam os mais perseguidos dos depoentes. Seria um inferno.

A melhor amiga ou o melhor amigo, estas instituições supostamente vestais, também seriam convocados a depor. Na CPI do amor sobraria até para o entregador de pizzas, que também sabe muito sobre os segredos de alcova e adonde tudo termina.

Por estas e por outras, melhor abafar o caso, amor, passa o orégano. Segue a vida.

Escrito por xico sá

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pierrot e Arlequim

VOU BEIJAR-TE AGORA,NÃO ME LEVE A MAL

Se não é nada fácil a harmonia dos pombinhos em tempos normais, no carnaval, valha-me poderoso Jeová, o knorr do amor entorna de vez.

Até o mais pudico dos casais prevarica, o mais convertido dos ex-canalhas faz besteira, a mais sonsa das donzelas tira uma casquinha nas ladeiras de Olinda e a mais guardada moça do caritó sente-se no jogo de novo e vai à forra...

Vai à luta, justíssima, cheia de esperança, é a chance de pegar um desses galegos importados das terras em que as mulheres não têm bunda, recurso que não lhe falta, orgulhosa, feliz e fagueira proprietária de um latifúndio dorsal imbatível. Daqueles capazes de deixar um membro do MST louco para pular a cerca e cortar o arame farpado do desejo proibido.

O mais correto, para imitar Mark Twain no seu “Manual para a maldita raça humana”, seria, durante o tríduo momesco, afrouxar o nó cego do moralismo e deixar o bicho correr solto na capoeira.

Dama para um lado; cavalheiro para o outro. Se possível mascarados, fantasia de clóvis, pierrôs e papangus, para o álibi ser completo, seja no “I love cafusú” -o mais pecaminoso bloco do carnaval de Pernambuco-, na folia brejeira de Aracati ou na “República do Beijo” lá em Diamantina.

Para que se desgastar em intermináveis e vexaminosos barracos públicos? Melhor entregar a sorte aos ursos pés-de-lã e às ursas manhosas que estão em todos os blocos, troças, cordões e fuzarcas.

Chifre de carnaval é fantasia, adorno, alegoria, não resiste à marca da cinza cristã da quarta-feira, não sobrevive à ressaca moral da quaresma.

Não dói, não pega nada, no dia seguinte lá estarão vocês dividindo a mesma aspirina, a mesma macaxeira com charque, o mesmo baião-de-dois com nata, o mesmo feijão tropeiro, a mesma rotina-tapioca da harmonia dos lares, a mesma sustança que nos refaz independentemente da lavagem de roupa suja.

Então tá combinado, a partir de hoje cada um vai para o seu lado. Bom se pudesse ser assim, fácil, mas o sangue quente não deixa, somos passionais, corações ao molho pardo, corações à cabidela, vixe!

Não tem jeito, não há dica ou manual de bom senso, será sempre o mesmo drama, “diz que me ama, porra”, como na canção clássica de Olinda.

Antes era mais leve, mais fácil mesmo, era só correr ao “Baile dos Casados”, no Clube Atlético de Amadores, bairro de Afogados, no Recife, que sempre foi genial nesse aspecto “gaiero”, um refúgio histórico da traição lúdica e tão-somente carnavalesca. Evoé, Baco!

Óbvio, amigo, você ai que me cutuca ao longe, que existem os pombinhos que se divertem lindamente juntos, numa boa, numa nice, na buena onda da maresia social clube. Mas são tão poucos, amigo, que até esmoreço.
De casalzinho ou na safadeza propriamente dita, que brinque em paz e que a ressaca lhe seja leve na quarta.

Escrito por Xico Sá

sábado, 19 de janeiro de 2008

CAFUNÉ

CAMPANHA PERMANENTE PELA VOLTA DO CAFUNÉ

Dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é o cafuné. Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os delicados estalinhos no cocoruto do mancebo. Pela volta imediata do mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas cabeças.

Pela criação imediata da Casa de Cafunés Gilberto Freyre, como me propõe, em sociedade, a amiga Maria Eduarda Risoflora Belém. Ótima idéia a ser espalhada por todo o país. Milhares de casas, guichês, varandas, redes debaixo de coqueiros, sofás na rua... Tudo a serviço dos breves e deliciosos estalinhos dos dedos das moças.

Gilberto Freyre era um entusiasta do cafuné e a ele dedicou páginas e páginas. GF, aliás, escrevia como quem dá cafuné, prosa mole, ritmo dos mais sensoriais. Como também assenta palavras outro Freire, sem o estilingue do Y, o Marcelino de “Contos Negreiros”.

Que machos & fêmeas sejam treinados, em um programa social de emergência, para reaprenderem o hábito do cafuné.

Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos!

Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo, o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura libido.

Delícia de se sentir; beleza de se ver. O cafuné de uma mulher em outra, ave palavra!, puro cinema, para além muito além do lesbian chic.

Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.

Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto era silêncio.

Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus cafunés.

Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, sob a graça dos dedos de uma morena jambo ou de uma morena caldo-de-feijão.

Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida sem provar do êxtase de um cafuné

Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos, nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.

Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de mulher.

Escrito por xico sá

domingo, 9 de setembro de 2007

DA PONTUAÇÃO AMOROSA...

Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente, SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!

Sem reticências...

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáfora.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem aqui nem Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem pelo menos uma discussão calorosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro.

Xico Sá

sábado, 1 de setembro de 2007

Uia... "Cantemos indiscriminadamente"... mas, não na minha frente

A ARTE DA CANTADA PERMANENTE

A cantada, amigos, é como a revolução de Mao Tse-Tung, tem que ser permanente.

Existem mulheres que a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos treze, quatorze.

Mas é necessário que a cante sempre, não aquela cantada localizada, neoliberal e objetiva, falo do flerte, do mimo, do regador que faz florescer, como numa canção brega, todos os adjetivos desse mundo.

A cantada de resultado, aquela imediata, é uma chatice, insuportável, se eu fosse mulher reagiria com um tapa de novela mexicana, daqueles que fazem plaft!

A boa cantada é a cantada permanente.

E mais importante ainda depois que rolam as coisas, depois que acontece, aí a cantada vira devoção, oração dos pobres moços a todas elas.

Porque cantar só para uma noitada de sexo é uma pobreza dos diabos, qualquer um animal o faz.

Porque cantar, à vera, é cantar todas e não cantar nenhuma ao mesmo tempo.

Explico: é espalhar pacientemente a devoção a todas as mulheres como quem espalha sementes nos campos de lírios.

Mesmo que elas digam, com aquele riso litografado na covinha do sorriso, que você diz isso para todas.

E claro que para cada uma dizemos uma loa, fazemos uma graça, não repetimos o texto, o lirismo, o floreado.

Porque amamos mesmo as mulheres.

Cantemos indiscriminadamente, e que me perdoe o velho e bom Vinícius de Moraes, mas cantemos sobretudo as ditas feias, esse conceito cruel e abstrato de beleza. Elas merecem, até porque as feias não existem, nunca conheci nenhuma até hoje.

Não por sermos generosos, piedade, ou algo do gênero... É que a dita feia, quando bem cantada, vira a superfêmea, para lembrar a bela pornochanchada com a Vera Fischer.

A cantada permanente e indiscriminada é irresistível, quando você menos espera, acontece o que você tanto sonhava.

Sim, tem que ter o cuidado para não ser simplesmente um chato que baba diante do melhor dos espetáculos, a existência das mulheres.

Ter que cantar sempre a mesma mulher e parecer que está apenas de passagem, que o estribilho é sempre novo, nada de larararás que mais parecem refrões do Sullivan e do Massadas, lembram dessa dupla de músicas chicletosas?

Ah, digamos que você cantou a Sônia Braga ainda naqueles tempos em que Gabriela subiu com aquele vestidinho no telhado –a cena mais quente da teledramaturgia brasileira até hoje- e e continuou cantando, sempre, sutil e sempre, e agora ela, passados tantos calendários, se comove e resolve recompensá-lo! Vai ser lindo do mesmo jeito, não acha? Na tela do nosso cocoruto vai passar o videotape de todos os desejos antigos e despejados no ralo pela morena cravo & canela.

XICO SÁ

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Amor nos tempos do messenger

O MSN E O AMOR OU MIOJO SENTIMENTAL

Em dez minutos, pronto, você está lá na maior das intimidades com a criatura. Tudo aquilo que demorava dias, meses, com as missivas ou flertes da vida real, virou coisa de segundos. É o amor nos tempos do Messenger... Tudo muito rápido, espécie de miojo sentimental, emoções baratas, 3,5 minutos, ferveu, fodeu!

Você nem carece pegar na mão, já vai direto pra cama, pra detrás da moita mais platônica. Não carece nem cantar Paulinho da Viola, olá como vai, quanto tempo, pois é, quanto tempo...

E não é coisa apenas desses moços, pobres moços. Minha amiga K., por exemplo, 55 anos, Madame Bovary dos tempos digitais, tem quatro amantes “fixos” virtuais, além do marido de carne, osso e ronco, como ela mesma diz. “Vou deixar um deles, pois não tem comparecido a contento”, solta a blague. Todos jovens, quase donzelos, meu Deus.

Antes bastava ficar de olho na chegada do carteiro, o bravo homem de amarelo, com o seu embornal de cobranças, boas novas ou lágrimas...

Amor e tecnologia... No princípio era apenas o bina, e matou o velho mistério do telefonema mudo e anônimo. Ofegante, a criatura, apaixonada, ligava só para ouvir a voz do obscuro objeto de desejo do outro lado da linha. Ou mandava uma música do Rei, de preferência a mais romântica: “Vou cavalgar por toda noite, numa estrada colorida...”

É, o telefonema dos desencorajados do amor, esse clássico das antigas, está praticamente enterrado.

Depois, chegou a telefonia móvel. Uma revolução na crônica de costumes. O fim de muitas desculpas canalhas. Tipo aquele homem que tomava um chá de sumiço e voltava, batom até no lenço d´alma, com os álibis mais inverossímeis desse planeta.

Outra alvissareira função do celular é fugir dos mal-assombros sentimentais. Você quer ir numa festa e sabe que aquele infeliz pode estar lá, serelepe, nos braços de uma “vagabunda” qualquer. Uma ligação e pronto, o amigo dá o serviço completo das assombrações. Pena que o mesmo aparelho também sirva para matar as surpresas, o friozinho na barriga, aquela coisa toda, lembra?

O amor nos tempos do Messenger. E o novo problema já está ficando velho, grego, decifra-me ou te deleto: como transformar uma tara platônica em uma trepada homérica?

Escrito por xico sá

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Choro público

DO COMOVENTE CHORO PÚBLICO DAS MULHERES


Uma das grandes vantagens das mulheres sobre nós é a coragem, o destemor, de chorar em público. Se o choro vem, as mulheres não congelam as lágrimas, como os machos, não guardam as lágrimas para depois, como nós guardamos, não levam as lágrimas para a envergonhada cisterna dos fracassos.

Homem que não chora não merece muita confiança. As mulheres não, falo da maioria das moças, desabam em qualquer canto e hora. Se estão mal de amor, choram na firma, no escritório mesmo, na fábrica, choram no trânsito, choram no metrô, simplesmente choram.

Como invejo as lágrimas sinceras das fêmeas.

Quantas vezes a gente não se preserva, por fraqueza, enquanto as lágrimas, em cachoeira, batem forte no peito machista e viram apenas pedras do gelo do uísque no happy hour mais grosseiro e vagabundo.

Como invejo as mulheres que misturam sim o trabalho com o drama heavy metal da existência. Desconfio da frieza profissional, das icebergs de tailleur, que imitam os piores homens e guardam tudo para molhar o travesseiro solitário numa noite de inverno.

Ora, as mulheres podem ser infinitamente poderosas, administrarem plataformas de petróleo nos mares... e chorarem um atlântico diante de uma alma perra e sem cuidados.

Lindas e comoventes as mulheres que choram em público, nas ruas, nos bares, nos restaurantes, nas malocas, no táxi. São antes de tudo umas fortes. Tristes dos que estranham ou ficam envergonhados com o mais verdadeiro dos choros. O eterno medinho do macho diante do pênalti que vale uma vaga no torneio da dignidade.

Escrito por xico sá



sábado, 14 de julho de 2007

O japão do amor

PLONGÉ, CONTRA-PLONGÉ, O AMOR

Nada como aquela olhadinha que ela dá quando lá embaixo.

Ainda e pra sempre, da série “detalhes tão pequenos de nós dois”. A vida se resume a observar, microscópio de eros, rei Roberto e velho Nelson, a mulher e o seu drama.

Nada como aquela olhadela, sobrancelhas assanhadas, mirando lá de nossos países baixos cá para cima do nosso cocuruto alumbrado.

Tão lindamente sacana, ah, que nega a minha nega, derreto-me como mantchega!

Ela quer saber se estou gostando, claro que estou mortinho ali à beira da pequena morte. Tem um orgulho, “vê como faço bem feito e com gosto”, ali naquela olhadinha plongé, contra-plongé, depende de quem vê...

Como eu gosto, ela diz, posso?

Aperto com força os seus cabelos, resvalando numa fração de segundo para um carinho no rosto, lado esquerdo, com o lado B da mão e dedos, quiromancia e mistérios.

Ela desce lá naquele cantinho fronteiriço, desenha a história do olho com riscos da língua em círculos, lambe a última costura da minha pobre existência, nirvaniza-me, petite mort, e assina nossos batismos lindos com lambidas góticas, assim como quem escreve inocentemente na areia, coraçãozinho flechado, e o nome de quem aposta, como se o amor fosse um jogo do bicho.

Não resisto a olhadinha lá de baixo, vem cá, estou longe e perto, meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo, como na canção do 2 e 2 são cinco. Como nosso universo é tão perfeito aqui na cama, só na cama, lá embaixo, na cama zen, japão do amor, horizontalizo-me, para sempre, viro réptil, nunca mais me levanto, nunca mais me levanto e ando, odeio meus Lázaros internos, agora eu quero mais é nadar no seco, melhor jeito de navegar aos teus pés, e de vez em quando, quer saber?, afundo as mãos nos arrecifes e te dou um peixinho, como aquele do conto de Virgílio Piñera, que aprisiono nas profundezas sujas das nossas existências.

Escrito por xico sá

terça-feira, 12 de junho de 2007

Quer namorar comigo?

Não se pede mais em namoro em São Paulo

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura felicidade clandestina?

“Qual é a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela. E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.

Na era do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico: “Você me aceita em namoro”?

Talvez nem exista mais em São Paulo, a não ser lá na divisa com o Mato Grosso, numa taberna perdida de Mirassol, na praça de Guzolândia, depois da missa de domingo, talvez em Cosmorama, nunca na Ilha Solteira…

O amor e as suas malasartes. O amor será sempre dirigido por Hitchcock, haja suspense,mestre!

“Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Mais do que um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o batom e a força dos membros inferiores.

“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente.

Eis a senha.

Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro do homem-bistrô, aquele que conhece vinho, que cheira a rolha para impressionar a moça.

O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira. Nada mais simbólico e romântico. Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas… Não carecem uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra.

Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. Nada mais os unia do que o silêncio, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, outro monstro entre os nossos líricos.

Palavras, palavras,palavras…

Silêncio, Silêncio, silêncio…

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.


Publicado por Xico Sá

domingo, 3 de junho de 2007

Pela volta da carta de amor

Friozinho em SP, romantismo em alta, além das doenças respiratórias, claro. Mas chega de politiquices, kassabices, direitismos, esquerdismos… Hoje é domingo e ninguém tem o direito de estragar o demorado almoço de ninguém. Aproveito, pois, para reforçar minha campanha permanente pela volta da carta de amor.

A carta escrita à mão, origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel fininho e pautado, pelos Correios, mr. Postman, como na música. Como canta o Roberto, escreva uma carta de amor, e diga alguma coisa por favor.

Pela volta da carta de amor.

Chega de emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue. Drama, senhoras e senhores.

Não temas a breguice, o romantismo, como já disse o velho Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.

A carta, apesar de todas as modernidades e invencionices contemporâneas, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.

Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.

Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares. Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios do(a) futuro(a) amado(a).

Que os amigos, e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.

Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.

O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.

Um namoro, romance ou cacho somente à base de emails não se sustenta, mais parece uma troca de ofícios, “venho por meio desta”, uma troca de protocolos, mensagens comerciais. Um amor sem uma troca de cartas, nem que seja bem rápida, ainda não é amor… O que você está esperando? Vamos lá, amiga, papel, tinta e derramamento, faz favor!

Não há quem não se comova com uma carta. Claro, você está certa, sempre haverá aquele medroso, aquele que se espanta com as palavras devotas… É, os fracos se encontram em todas as partes. Estes temem a própria vida, são frios, reconhecerás de longe. Estes não valem uma linha, não valem sequer um email ou pulso telefônico. Não tires o mundo por eles, uma carta nas mãos de um homem tem o poder de uma bela bomba amorosa. Experiência própria, eu gamei na hora.

Publicado por Xico Sá - 3/06/07 12:05 AM

Álbum da Lilica - Fotos publicadas aqui

Arquivo do blog

Seguidores

Minhas visitas e meus contatos