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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pierrot e Arlequim

VOU BEIJAR-TE AGORA,NÃO ME LEVE A MAL

Se não é nada fácil a harmonia dos pombinhos em tempos normais, no carnaval, valha-me poderoso Jeová, o knorr do amor entorna de vez.

Até o mais pudico dos casais prevarica, o mais convertido dos ex-canalhas faz besteira, a mais sonsa das donzelas tira uma casquinha nas ladeiras de Olinda e a mais guardada moça do caritó sente-se no jogo de novo e vai à forra...

Vai à luta, justíssima, cheia de esperança, é a chance de pegar um desses galegos importados das terras em que as mulheres não têm bunda, recurso que não lhe falta, orgulhosa, feliz e fagueira proprietária de um latifúndio dorsal imbatível. Daqueles capazes de deixar um membro do MST louco para pular a cerca e cortar o arame farpado do desejo proibido.

O mais correto, para imitar Mark Twain no seu “Manual para a maldita raça humana”, seria, durante o tríduo momesco, afrouxar o nó cego do moralismo e deixar o bicho correr solto na capoeira.

Dama para um lado; cavalheiro para o outro. Se possível mascarados, fantasia de clóvis, pierrôs e papangus, para o álibi ser completo, seja no “I love cafusú” -o mais pecaminoso bloco do carnaval de Pernambuco-, na folia brejeira de Aracati ou na “República do Beijo” lá em Diamantina.

Para que se desgastar em intermináveis e vexaminosos barracos públicos? Melhor entregar a sorte aos ursos pés-de-lã e às ursas manhosas que estão em todos os blocos, troças, cordões e fuzarcas.

Chifre de carnaval é fantasia, adorno, alegoria, não resiste à marca da cinza cristã da quarta-feira, não sobrevive à ressaca moral da quaresma.

Não dói, não pega nada, no dia seguinte lá estarão vocês dividindo a mesma aspirina, a mesma macaxeira com charque, o mesmo baião-de-dois com nata, o mesmo feijão tropeiro, a mesma rotina-tapioca da harmonia dos lares, a mesma sustança que nos refaz independentemente da lavagem de roupa suja.

Então tá combinado, a partir de hoje cada um vai para o seu lado. Bom se pudesse ser assim, fácil, mas o sangue quente não deixa, somos passionais, corações ao molho pardo, corações à cabidela, vixe!

Não tem jeito, não há dica ou manual de bom senso, será sempre o mesmo drama, “diz que me ama, porra”, como na canção clássica de Olinda.

Antes era mais leve, mais fácil mesmo, era só correr ao “Baile dos Casados”, no Clube Atlético de Amadores, bairro de Afogados, no Recife, que sempre foi genial nesse aspecto “gaiero”, um refúgio histórico da traição lúdica e tão-somente carnavalesca. Evoé, Baco!

Óbvio, amigo, você ai que me cutuca ao longe, que existem os pombinhos que se divertem lindamente juntos, numa boa, numa nice, na buena onda da maresia social clube. Mas são tão poucos, amigo, que até esmoreço.
De casalzinho ou na safadeza propriamente dita, que brinque em paz e que a ressaca lhe seja leve na quarta.

Escrito por Xico Sá

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