A internet fez com que Frei Betto virasse Ivan Pinheiro, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi o mais recente exemplo da grande editora de textos falsos em que o mundo virtual se tornou: sem nunca ter conversado com Pinheiro, Frei Betto se viu, semana passada, assinando um artigo do secretário do PCB que criticava a cobertura jornalística dos Jogos Pan-Americanos. Até se esclarecer a confusão, que nenhum dos dois sabe como começou, o texto já estava espalhado por "sites", blogs e correntes de "e-mail". A Frei Betto ficou a consolação de que não está só — na mesma situação estão recordistas brasileiros de vítimas de textos apócrifos na internet como Arnaldo Jabor, Luís Fernando Verissimo e Millôr Fernandes, ao lado de estrangeiros como Gabriel García Márquez.
Argumentando que a cobertura do Pan, sobretudo das Organizações Globo, teria sido desfavorável a Cuba, o artigo “O Globo, a Revolução Cubana e o Pan” — de Ivan Pinheiro — foi o pivô do engano. Publicado no "site" do PCB no início de agosto, o texto foi reproduzido em outros "sites" e divulgado por "e-mail". Com a assinatura de Frei Betto. A falsa autoria chegou a requintes como a indicação “Publicação autorizada pelo autor”, na reprodução do blog “Dialógico”.
— Não sei por que houve esse equívoco — diz Pinheiro. — Talvez Frei Betto já tenha escrito algo com tema parecido e, então, acharam que era dele também.
— A internet é a casa da mãe Joana — resume Frei Betto. — Tenho como princípio o seguinte: nunca ataco pessoas e instituições, apenas defendo minhas idéias; isso não é minha índole, incluindo aí índole literária.
Não foi a primeira vez que Frei Betto foi incluído no universo da literatura apócrifa. Ele já “assinou”, sem ter escrito, texto criticando o Vaticano à época da visita do Papa ao Brasil, além de uma espécie de “poema água-com-açúcar” em que ensinava a melhor maneira de se preparar para a morte:
— Cheguei a instalar no computador um alerta do Google que manda um aviso quando um "site" contendo seu nome entra na internet. Foi assim que soube da confusão com o texto do Ivan Pinheiro. Como o artigo não tem meu estilo, nem concordo com as idéias dele, mandei um "e-mail" ao editor do "site" onde vi primeiro isso, chamado “O Vermelho”.
O editor de “O Vermelho”, Bernardo Joffily, publicou uma errata, admitindo a troca de assinaturas. O texto foi recebido pelo "site", que o pôs no ar sem confirmar com Frei Betto a autenticidade do artigo, segundo Joffily, para quem “o primeiro engano na internet sempre é difícil de achar”.
Texto de Alessandra DuarteFonte: O Globo
Data: 18 de Agosto de 2007
Um comentário:
O frei Betto conhece a casa da mãe Joana?
Será que conhece também a casa da tia Olga?
Esse mundo está mesmo perdido.
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