PASQUALE CIPRO NETO
Demitindo a "demissão" do gerúndio
"ALÔ, É DO GOVERNO do Distrito Federal?
-É.
-O governador está?
- Não; ele está a viajar.
-Está "a viajar'? Mas não é de Brasília? Ou será que me enganei e telefonei para Lisboa?"
Pois é, caro leitor. Se os servidores do governo do Distrito Federal levarem a ferro e fogo a "ordem" do governador José Roberto Arruda (DEM), esse diálogo talvez se torne real. Explico: segunda-feira, o governador do DF "demitiu" o gerúndio. Lá vai a íntegra do texto oficial:
"Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007. Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências. O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1º - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2º - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3º - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de setembro de 2007.
119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA"
Fora eu o "Gerúndio" (o caro leitor notou que, no decreto, o dito-cujo virou substantivo próprio?), entraria com uma ação na Justiça do Trabalho. "Que história é essa de me demitir?", perguntaria o Gerúndio aos advogados do governo do DF.
A assessoria do governador explica que, quando ele cobrava a conclusão de projetos, recebia respostas como "Vou estar terminando", "Vou estar lhe informando", "Vou estar concluindo". De fato, frases como essas transmitem a sensação de que nada acontecerá. Isso é herança maldita do ultramegachato uso de bobagens como "Ele tem que estar enviando um fax", "Vou estar transferindo a ligação", "Você tem que estar pegando uma senha", "Não pude estar comparecendo" etc.
Nessas insuportabilíssimas frases, emprega-se a estrutura "estar + gerúndio" para indicar processos que não são durativos ("Estava tomando banho"; "Nessa hora vou estar almoçando com ela") nem simultâneos ("Quando você estiver falando com ele, estarei terminando o relatório").
Pois o nó da questão é justamente o mau uso do gerúndio, ou melhor, da estrutura "estar + gerúndio" (que recebeu o nome de "gerundismo").
O governador tem pleno direito de enfurecer-se com seus assessores enrolões, mas nenhum direito de tentar legislar sobre o uso da língua, sobretudo quando essa tentativa esbarra em impropriedades técnicas.
Viva o gerúndio! Abaixo o decreto do governador do DF! Abaixo o mau uso de "estar + gerúndio"! E, sobretudo, abaixo todos os enrolões (da administração pública, do Senado, da Câmara Federal, das empresas de telefonia fixa, móvel etc., etc., etc.)!
Em tempo: um funcionário do Congreço, digo, Congresso Nacional encomendou por conta própria um carimbo com os dizeres "Congreço Nacional". Milhares de documentos receberam o tal carimbo. Pensando bem, não terá sido um ato falho? Com o Congresso exibindo níveis indigentes de comportamento, nada de "ss". Seu Creysson neles! É isso.
Um comentário:
Seu blog está muito bacana parabéns nota 1000 !!! eu ando sem tempo para postar mas logo voltarei beijão.Chrystian
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