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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Enformamento

Sou fã assumida mas a crônica abaixo está ótima, assim estou colocando na íntegra:

Forca de expressão
11.11.2006 | Nem morte morrida nem morte matada! Morrer pode ser só metáfora, mero sentido figurado, força de expressão. Ninguém morre pra valer de rir, de ciúmes, de inveja, de susto... De vergonha, então, hoje em dia nem se fala. Mesmo de sede, de frio e de fome, coisas que podem mesmo matar, morre-se em geral de mentirinha. Quando alguém diz que está morrendo de vontade, em geral precisa de um banheiro, rápido. Cada caso é um caso: sexo para quem está morrendo de tesão, sorvete para quem está morrendo de calor, reencontro para quem está morrendo de saudade.
Poetas adoram falsear o fim. Vinicius pressentiu que morreria de amores. Maiakóvski foi mais realista ao selar seu destino: “Melhor morrer de vodka que de tédio”. Fernando Pessoa escreveu que “a morte é a curva da estrada, morrer é só não ser visto”. Tudo tem sua hora. “Não se pode morrer na metade do quinto ato”, advertia Ibsen. Vai entender essa gente de teatro: “A dor da morte existe só na imaginação”, alguém diz no terceiro ato de “Henrique VI”, de Shakespeare. Tá bom!
A música brasileira também é cheia de referências mais ou menos lúdicas ao último suspiro. É doce morrer no mar? Sei lá, há quem prefira morrer numa batucada de bamba e, no entanto, a gente morre na BR-3, se bobear na contramão atrapalhando o trânsito. Os heróis de Cazuza morreram todos de overdose, mas gente, como cantava Caetano, “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.
Certas mortes são inacreditáveis. Até semana passada, por exemplo, eu pensava que só se enforcassem ainda as sextas e as segundas, dia seguinte ou às vésperas de feriado. Uma pessoa com a corda no pescoço seria tão-somente alguém com problemas financeiros. A morte no cadafalso me soava tão antigo quanto a guilhotina e a peste negra. Coisa de livro de História, de filme de época, teatrão: Tiradentes, John Wayne, Shakespeare, e olhe lá.
Enforcar, a besta quadrada aqui acreditava nisso pra valer, tinha virado modo de dizer, que nem matar aula ou nadar, nadar, nadar e morrer na praia. Se alguém me pedisse uma definição para “forca” eu diria tratar-se de um “jogo em que se deve descobrir uma palavra, adivinhando-se cada uma de suas letras, e no qual se vai desenhando, por partes, a figura de um enforcado, à medida que cada letra dita pelo adivinhador não corresponde a nenhuma da palavra escolhida”, segundo cola do Aurélio.
Tudo isso pra confessar o seguinte: a notícia do enforcamento de Saddam Hussein me chocou e, evidentemente, não vai nisso um pingo de dó do personagem nefasto em questão. Tampouco quero aqui subir no palanque contra a pena de morte. Mas achei degradante fazer parte de uma espécie que pendura gente pelo pescoço. Onde mais, além do Iraque, se enforcam homens: Irã, Índia, Cingapura, Japão e Estados Unidos, mas especificamente nos estados de Washington e Hampshire.
Aprendi várias coisas sobre enforcamento no texto de Antonio Carlos Olivieri , no Uol Atualidades: “O tamanho da corda, a pressão do nó, o peso da vítima e o impacto que seu pescoço sofrerá no momento em que ele for executado são calculados de modo que a morte ocorra pela quebra das vértebras da coluna cervical (conhecida como ‘fratura do enforcado’) e a secção da medula espinal, o que provoca parada respiratória”. A perícia do carrasco é fundamental para garantir uma morte relativamente rápida. Ou o cara fica lá se estrebuchando até morrer “por asfixia ou obstrução do fluxo sangüíneo no cérebro”, conta Olivieri. Seu texto é revelador do caráter bárbaro dos homens: “A forca, empregada de modo técnico, foi considerada uma sucessora ‘mais humana’ para a guilhotina”.
Cá pra nós, estou morrendo de vergonha de ser humano. Ô, raça!

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