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quarta-feira, 26 de março de 2008

Infidelidade



O "El País" de domingo publicou a matéria "El negocio de la infidelidad", inicialmente pensei em só citar o artigo bizarro, mas aproveito a tradução da uol e posto na íntegra. Muita criatividade, não é?

Leia isso:

O negócio da infidelidade
Jerónimo Andreu

Rosa descobriu o engano no dia em que telefonou para o hotel de seu marido. "Não há nenhum senhor Mayo", responderam na recepção. O fim do casamento. Para evitar esses acidentes, as empresas de álibis podem criar em qualquer cidade do mundo um hotel imaginário com um telefone que se evapora depois de um fim de semana de paixão. O comércio da infidelidade também inclui hotéis reais e software que ensinam os celulares a mentir.

Para explorar os sites do engano basta criar um personagem: Jesus Romano, um arquiteto casado que suspira por uma escapada com uma amiga especial. Precisa de uma desculpa. Consulta por e-mail Miguel Ángel Martín, o diretor da Tucoartada.com [que pode ser traduzido como "seualibi.com"]. Sua oferta: 200 euros pelo convite para um seminário sobre isolantes, um telefonema de confirmação e folhetos falsos. Um complemento garante a cobertura telefônica.

A empresa nasceu há dois anos durante um jantar de organizadores de congressos. Entre dois pratos, alguém perguntou: "Quem usa seus amigos para maquiar um fim de semana maluco?" Todos usavam, por isso decidiram transformar em empresa a mentira gratuita. Inspiraram-se na americana Alibi, uma empresa que o ex-governador de Nova York, Eliot Spitzer, apanhado depois de freqüentar as prostitutas, não devia conhecer. Muitos países já tinham um equivalente local, alguns tão sofisticados quanto a romena Babalucio, que oferece ao infiel caixas de fósforos do hotel em que não se hospedou ou troféus do campeonato de que não participou. Desde então a Tucoartada administrou 200 encomendas. Rejeita os inviáveis ou fraudulentos. Além de mentir, reserva o hotel e paga as faturas para que não fiquem rastros. Em suas promoções exibe um doceiro para o qual arranjou um curso de caligrafia com glacê.

A competência no adultério digital se chama Juan Vázquez, diretor comercial do Coartadaclub. Afirma que representa dos dois lados dos Pirineus a Commerceweb, uma multinacional com sede no Panamá. A empresa não se limita à infidelidade, oferece uma arrepiante gama de serviços. Se você é um cabeleireiro de Cuenca que quer simular um workshop em Andorra, eles sabem montar a farsa. E se desconfia que, por uma dessas coisas da vida, grampeiem seu telefone o clube lhe consegue um que não podem localizar. Vázquez jura que respeita a lei, mas que "é preciso aproveitar todas as brechas que ela deixa". Para qualquer gestão, exige a identidade. Tudo fica registrado, o que tem o inconveniente de deixar o cliente à mercê dos mentirosos. Martín tem outro sistema: "Seus dados são conhecidos por mim. A equipe que prepara seu álibi os ignora", explica em seu e-mail. Depois de cada trabalho ele destrói tudo.

Vázquez calcula que sua empresa coordene 20 trabalhadores na Espanha. Diante das suspeitas, apresenta 2.200 pedidos de álibi e estudos de mercado que afirmam que a metade do país estaria disposta a enganar. Oferece hotéis fictícios em 60 países, bônus de infidelidade... Presume que seu público seja formado por aqueles com menos oportunidades de escapar e por isso um de seus serviços principais é o dos seminários de cozinha para donas de casa. Para outro tipo de cliente, o cérebro oculto da companhia prepara um serviço de acompanhamento.

Vázquez é um homem pragmático: "Um divórcio é mais caro que um álibi. Conosco basta chegar em casa com um ramo de flores e um 'querida, te amo'". María del Mar González, terapeuta de casais, não é tão entusiasta a respeito das virtudes da mentira: "Um engano tão sofisticado não salva um casamento; prolonga a pantomima".

A Internet é a mãe dessas companhias. "Em um escritório não teríamos visitas", admite Vázquez. Mas a tecnologia possibilita soluções mais econômicas. Por 2 euros os infiéis descarregam o Soundercover ou Cargo, programas que criam álibis acústicos para telefone. O usuário pode falar da praia e seu interlocutor ouvirá como fundo o ruído de um escritório, de um aeroporto ou de um engarrafamento.

As empresas de mentiras não oferecem garantia. "Se você encontrar seu primo no hotel, não é nossa culpa", dizem na Tucoartada. César Martín, da Associação Profissional de Detetives Privados, considera que esses sistemas "só podem funcionar se não houver suspeitas". "É um circo", explica, destilando ceticismo. González também não sabe se tanto esforço tem muita utilidade: "Afinal, as mudanças no comportamento do infiel o delatam".

O problema dos hotéis fantasmas é que não são cômodos para consumar o amor. Uma das soluções em voga são os "love hotels". Barcelona é sua capital, com uma dezena, filhos dos "mobiliados" do pós-guerra. Tentam atrair jovens com o anúncio de quartos a 45 euros e uma elegância "low cost". O gerente do La França divide sua clientela entre pré, pós e extra marital: jovens com urgência, especialmente depois que as discotecas fecham; divorciados com horário escolar, e uma porcentagem incerta mas estável de infiéis, que reinam entre a semana, na hora do almoço ou na saída do trabalho. Os recepcionistas reconhecem os adúlteros quase sem olhar para eles. Bastam os óculos escuros ou uma mulher que espera o elevador de costas.

Às 3 da madrugada se abre a garagem do Regàs de Barcelona. Um carro entra e em volta dele caem duas cortinas. Os ocupantes descem e esperam em um cubículo enquanto um recepcionista de terno estaciona e cobre a placa com uma lona. Acompanha o casal até o quarto para garantir que não se encontram com outro cliente. É proibido circular sozinhos. Para sair devem discar 9 e esperar o recepcionista. No quarto, um espelho gigante e uma televisão com canais pornô e de comércio. Janelas seladas. O modelo é universal. No La França uma brigada de guardas com walkie-talkies patrulha os corredores. O detetive Martín volta a suspirar enquanto explica que o sistema oferece poucas garantias: "Não adianta se esconder, se um investigador vir alguém sair de um desses lugares tudo vai acabar igual". No La França lembram poucos casos, mas admitem que houve espias que tentaram entrar até a cozinha. Alheias às advertências do detetive, as portas da garagem do hotel se abrem. Um carro pára sobre a calçada e sua motorista ajeita os óculos escuros, talvez pensando em onde vendem flores, talvez ensaiando um "Querido, te amo muito".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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