O que uma piscada não faz?
TEM DIAS em que abrimos os olhos e temos vontade de fechá-los imediatamente, nos esconder debaixo do cobertor e colocar aquela placa de "não perturbe". "Favor, humanidade, não azucrinar nas próximas 24 horas".
Ou então acordamos com preguiça de ir para o serviço, ou para a aula de francês, de ir para a ginástica e até mesmo de ir encontrar os amigos para uma farra. Também é comum a gente se apavorar com questões cotidianas, como, por exemplo, ter que tirar uma segunda via de uma carteira de identidade. Achamos o mundo dificultoso e temos preguiça.
E eis que, um dia, abrimos o jornal e descobrimos que um sujeito escreveu um romance apenas com a pálpebra. Sim. Ele tinha sido acometido por várias doenças sinistras, não conseguia articular as palavras e, além disso, teve paralisia física total. Conseguia mexer um único membro de todo seu corpo: sua pálpebra e, mesmo assim, só a esquerda.
E o que ele fez? Bem, enquanto a gente estava debaixo do cobertor com nossa plaquinha "do not disturb" e um medo gigante do mundo, ele foi lá e ditou o livro usando a pálpebra.
Jean-Dominique Bauby criou uma espécie de código Morse. Sua assistente ia lhe mostrando as letras do alfabeto e quando chegava à letra certa, ele piscava. Escreveu um livro inteiro, "O Escafandro e a Borboleta", isso porque ele se sentia num escafandro, mas seu cérebro era cheio de borboletas. O livro virou um sucesso editorial. Seu autor morreu logo, aos 45 anos.
É claro que poderíamos usar isso como uma fábula da superação e da falta de preguiça. Mas não vamos fazer isso, pois é óbvio demais. Além do mais, é preguiçoso, o que reforçaria ainda mais a nossa plaquinha imaginária de "não perturbe". Mas achamos que essa é uma história boa de se contar. Só isso.
Para pensarmos que uma pálpebra pode ter mais utilidade do que só ser fechada. Ela serve para escrever um livro. Ou então para dar uma piscadinha de olho e mostrar que gosta de alguém!
Fonte: 02 Neurônio
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